Protagonistas dos diários futebolísticos, das conversas no trabalho e anfitriã das salas de espera médicas, a tendinite introduziu-se no nosso vocabulário quotidiano.
No desporto como na vida empresarial, a tendinite representa o terceiro motivo de incapacidade, tornando-se numa importante doença ocupacional.
No entanto continua a ideia errada que uma tendinite veio para ficar e que a cura nao existe : longe da realidade, saiba como prevenir-se e tratar a sua tendinite.
Bilhete de identidade da tendinite
Não podendo simplificar mais, a tendinite é a inflamação do tendão.
O tendão é uma estrutura anatómica, um tipo de corda fibrosa ligando a parte terminal de um musculo à um osso. Contudo, não representa somente um simples meio de transmissão entre musculo e osso : o tendão apresenta capacidades visco elásticas que lhe permitem resistir à uma tracção e armazenar uma certa quantidade de energia para a restituir durante o movimento. Um tendão é capaz, sem danos, de se alongar cerca de 5% acima do seu cumprimento inicial, participando assim à protecção e estabilização do sistema musculo esquelético.
A tendinite reconhece-se por os seus sintomas específicos : dor à palpação e à contracção do musculo, dor permanente durante o esforço e obrigando geralmente à paragem. Poderá surgir, um ligeiro inchaço ao nível da articulação como vermelhidão ou calor local, sem ser sistemático.
A tendinite manifesta-se geralmente quando o tendão é submetido à constrangimentos demasiadamente importantes num período muito longo, ultrapassando as suas capacidades de resistência.
Local de nascimento
Apesar da possibilidade anatómica de todos os tendões serem alvos de processo inflamatório e desenvolver um quadro de tendinite, existem zonas mais frequentes onde estas se manifestam.
No ombro, a tendinite do supra-espinhoso, bicipital ou subescapular, são das mais frequentes, atendendo principalmente ao facto de o ombro ser um complexo particular pelas poucas pressões às quais é submetido, por ser um estrutura óssea mais fina e menos congruência articular do que na bacia por exemplo, simplesmente não é uma articulação de porte o que lhe permite amplitudes movimentos mais importantes. Os transtornos surgem das repetições de atritos e não do excesso de esforço devido ao peso. A evolução das tendinites são a fragilização e a ruptura, motivo pelo qual as dores de ombro não devem ser ignoradas mesmo sendo suportáveis.
No caso do cotovelo, representadas por duas formas diferentes : se a dor se localizar na face externa do cotovelo (afectando o grupo dos músculos épicondilianos que permitem de rodar a mão para cima e de estender o pulso) falaremos de ténis elbow clássica de jogadores de ténis e só. Ao inverso, a dor do golf elbow manifesta-se na face interna do cotovelo e principalmente no grupo de músculos epitrocleanos que têm por função a rotação da mão para baixo e flexão do pulso.
Localizadas no joelho, a tendinite da pata de ganso é uma afecção devida à sobrecargas, distúrbio postural do joelho, desequilíbrios musculares ou traumatismos. A tendinite do tendão rotuliano, que manteve em Portugal em alerta na condição física de CR7 durante o mundial 2014, deve-se à micro lesões repetitivas em desportos com mudanças de direcção rápidas, saltos e movimentos de pivot que não permitem a regeneração total.
A tendinite de Aquiles no tornozelo, é provocada por uma desidratação durante ou apôs o esforço, uma falta de flexibilidade, um transtorno morfológico da planta do pé. O formato do calçado pode representar um catalisador multiplicando as probabilidades de desenvolvimento de tendinite de Aquiles.
Na mão, uma das tendinites mais comum é a tenossinovite de De Quervain que afecta os movimentos do polegar, patologia frequente nas operarias fabris que se associa ao síndrome do canal carpico.
A causa
O grande principio é a alteração do equilíbrio muscular, que por sua vez conduz ao inicio dos sintomas. No entanto, porque nem sempre podemos simplificar os temas, as causas de aparecimento de tendinites dividem-se em dois grandes grupos.
Os factores intrínsecos, ou seja íntimos e inerentes à nossa pessoa, representados por alterações genéticas, malformações anatómicas, calcificações ou alterações posturais, cujas o doente não pode prevenir.
Os factores extrínsecos, tais como os excessos de levantamento de pesos, os movimentos repetitivos no trabalho, o uso exagerado e inadequado do computador, o material ou treino errado na pratica desportiva, e tantos outros, circunstâncias que podem vir à ser corrigidas de forma à limitar as incidências e recidivas.
Como tratar ?
A tendinite é um processo inflamatório, é uma resposta do organismo frente à uma lesão que poderíamos definir de agressão. Nesse aspecto, o nosso organismo dispõe de todos os recursos para restabelecer o estado e funcionalidade do tendão. Pois, mas é ai que tudo se complica. De facto, as solicitações exageradas, os movimentos repetitivos, os problemas posturais mantêm a inflamação.
Nesse sentido, a medicina convencional, propõe o descanso da articulação sem imobilizar totalmente para não aumentar a rigidez. É preconizado evitar a reprodução dos movimentos responsáveis pela dor. Para reduzir a inflamação, é aconselhado de praticar gelo sobre a articulação, de semanas à vários meses no quadro de tendinites do ombro ou do tornozelo. Num quadro agudo, a prescrição de anti-inflamatórios completa a acção do gelo, em certos casos (ombro principalmente) procede-se à injecção de corticóides.
A osteopatia intervêm em complemento da medicina clássica, sublinhado novamente como já referi numerosas vezes, a importância de uma abordagem multidisciplinar.
O nosso sistema muscular predispõe de eixos biomecânicos, imprescindíveis à sua correcta função e preservação. O papel da Osteopatia consiste na correcção postural global do corpo para minimizar a sobrecarga dos tendões. Esse trabalho muscular e ósseo, tanto na coluna vertebral como nas articulações, permite corrigir os desalinhamos articulares e musculares no tratamento e prevenção da tendinite. Devolver mobilidade articular diminuirá as dores e principalmente limitara os riscos de recidiva, o que os anti-inflamatórios não permitem.
Harmonizar os movimentos, libertar as tensões musculares, fazem parte integrante do tratamento osteopático para diminuir as pressões sobre o tendão, assim como a organização miofascial e ligamentar circundante à articulação para restituir a função muscular.
A ideia principal é de restituir um livre movimento do tendão, minimizando as afecções à distancia que possam vir à comprometer o equilíbrio da estrutura muscular.
Contudo este processo de tratamento têm paragem obrigatória na avaliação dos erros posturais no dia à dia tanto no trabalho como nos lazeres. A ergonomia do posto de trabalho, da sua postura à secretaria, da forma como carrega a sua mochila, temas que já abordamos na sua Zen são fundamentais no tema que me move tanto à escrever : a Prevenção. E falando de prevenção, deixo-vos 7 dicas para prevenir tendinites.
7 dicas para prevenir tendinites
– Mantenha uma posição adequada durante o esforço, o respeito do eixo biomecânico muscular assegura um funcionamento sem riscos para o tendão.
– Verifique o seu material desportivo : o calçado é frequentemente à origem de tendinites do tornozelo ou do joelho.
– Tente alternar as suas actividades, seja para desportista ou para profissões exigindo uma repetição excessiva de movimentos (cozinheiros, cabeleireiros, empregadas de limpeza…), causando uma inflamação .
– Efectue um aquecimento e alongamentos, no desporto como no trabalho, particularmente em condições como frio, chuva …, que modificam as qualidades do tendão, tais como os impactos acidentais ou provocadas pela actividade. No entanto, a ideia que se trata uma tendinite apenas com estiramentos e alongamentos foi múltiplas vezes avaliada cientificamente em papers científicos que não demonstram eficácia na dor mas sim num quadro preventivo.
– Consulte o seu dentista : as infecções são uma origem da tendinite, provocando uma reacção inflamatória localizada, nomeadamente as infecções dentarias como cáries
– Mantenha uma alimentação equilibrada : hidrate-se e tente evitar alimentos contendo histamina, cujo papel foi clinicamente demonstrado no aparecimento de tendinites. Citaremos por exemplo : tomates, abacates, figos, batatas, couve, couve-flor, pepino, uvas, fumeiro, anchovas, arengue fumado, sardinhas, atum, queijos fermentados, leveduras, vinho …
– Consulte um profissional de saúde aos primeiros sinais: a tendinite é uma resposta inflamatória à uma lesão, a cronicidade provoca compensações e alterações das estruturas.