OTITE E OSTEOPATIA

Otite no bebé e na criança :

Para melhor entender este problema de ouvido, são necessários alguns conselhos e princípios de base.

Descrição da otite :

A otite na criança constitui um de os mais frequentes motivos de consulta em pediatria. A primeira crise surge entre os 6 e 9 meses até aos 2 anos. Outra fase menos importante manifesta-se aos 5 anos, aproximadamente na idade escolar. Observa-se que 80£% das crianças sofreram de uma otite antes dos 3 anos e que 45% adoeceram 3 vezes nesse mesmo período de vida. A infecção localiza-se na parte média do ouvido, posteriormente ao tímpano : em pediatria denomina-se então de otite média aguda (OMA). A OMA surge frequentemente em consequência de uma infecção respiratória tais como a constipação, sinusite ou bronquíolite, e em fases de desenvolvimento dentário. A causa da infecção pode ser viral ou bacteriana.

Os factores de risco que aumentam a OMA :

  • exposição secundaria à tabaco
  • alimentação com formula láctea nos primeiros meses de vida
  • factor genético
  • alimentação com biberão em posição deitada
  • regurgitações quotidianas nos primeiros meses de vida
  • vegetações adenóides abundantes
  • alergias respiratórias

Manifestações clínicas :

Os sintomas da otite (OMA) manifestam-se parcialmente ou em totalidade, de forma menor ou mais grave consoante a gravidade da infecção :

  • dor localizada à 1 ou aos 2 ouvidos
  • diminuição de apetite, sono alterado
  • irritabilidade e choros frequentes
  • vómitos e náuseas
  • diarreia
  • diminuição de audição

A otite não é contagioso, não se transmite como uma constipação, mas a constipação predispõe a criança à desenvolver uma otite. Confirma-se o diagnostico de uma OMA com o exame do ouvido via um otoscópio na presença dos seguintes sinais :

  • inchaço do tímpano
  • cor baça e cinzenta da membrana do tímpano
  • inflamação do tímpano
  • mobilidade reduzida ou inexistente da membrana do tímpano na otoscópia neumática.

Tratamento médico :

Em numerosos casos de OMA, os tratamentos são controversos.; os agentes contagiosos são virais e bacterianos e os antibióticos não são sempre eficazes. Mais de 80% das OMA curam sozinhas, os antibióticos favorecem o aparecimento de células-troncos contagiosas resistentes. As organizações pediátricas têm em conta este fenómeno incentivando fortemente a antibioterapia de inicio (sem período de observação de alguns dias) unicamente para os pacientes de alto risco e os que sofrem o seu 4° episodio em menos de 6 meses. Para o alivio da dor e controlo da febre, utiliza-se acetaminofeno (paracetamol de eleição) e ibuprofeno; para sintomas mais severos, codeína. Durante um período de observação antes da prescrição de antibióticos, o médico devera considerar as seguintes circunstancias :

  • um diagnostico incerto de OMA para uma criança de mais de 6 meses com um estado geral ligeiramente perturbado (ligeira dor, febre < 39°C)
  • um diagnostico confirmado de OMA para uma criança de mais de 2 anos com sintomas ligeiros.

Para uma criança de menos de 6 meses, recomenda-se a administração de antibióticos sem período de observação.

Se, consequentemente à um período de observação de 48 à 72 horas, a criança apresenta os mesmos sintomas; apesar de 80% das OMA se tratarem de elas próprias, prescreve-se antibióticos. A administração precoce de antibióticos reduz os sintomas de febre e de dor, e ajuda a prevenir as complicações que são muito raras. As complicações são a meningite, mastoidite e alteração da audição.

Otites múltiplas e otites médias com efusão (OME) :

A frequência de episódios de OMA ocasionam uma acumulação de liquido (efusão) no ouvido médio causado pela cura incompleta da infecção. Em 90% dos casos, o liquido inverte-se em menos de 3 meses. Alem de este período, se o liquido ainda estiver presente, identifica-se esta condição clínica como sendo uma otite do ouvido médio com espancamento (OME).

Uma OME pode surgir também pela presença em grande quantidade de vegetações adenóides hipertrofiadas nas vias nasais da criança que ocasionam escorrimento no nariz e trompa auditiva em direcção ao ouvido médio. O ouvido médio é ventilado 3 à 4 vezes por minuto quando uma criança engole ou boceja graças à trompa. A trompa auditava (d’Eustache) liga o ouvido médio à garganta, ao nariz e ao seios, que estão todos interligados e constituindo o nasofaringe. Sua função é de equilibrar a pressão dentro do ouvido e drenar os detritos do ouvido médio e de a proteger dessa forma contra as secreções presentes na naso faringe da criança.

No adulto, a trompa mede 35 à 45 mm; no bebé, cerca de metade, com tamanho definitivo aos 7 anos. De mais, no bebé a trompa d’Eustache posiciona-se mais horizontalmente que no adulto. Essa duas particularidades anatómicas são responsáveis em parte pela incapacidade do ouvido médio do bebé e da criança de drenar líquidos surgindo apôs episódios de OMA, ou de vegetações adenóide abundantes.  

O liquido contido no ouvido médio pode ser estéril (sem infecção) ou conter bactérias. Em presença de OME, a criança não sente dor ou de forma leve e intermitente, assim como a febre não esta sempre presente. Os pais, observam que o bebé ou a criança ouve menos bem, audição diminuída pela presença de liquido no ouvido médio; uma criança mais crescida evocara a sensação de ouvido entupido ou de pressão nos ouvidos.

O diagnostico médico de OME é, como na OMA, praticado com otoscópio : o tímpano será de cor cinzenta ou alaranjada. Em otoscópia neumática, o tímpano encontra)se imóvel. 30 à 40% das crianças de mais de 6 meses sofrem de um episodio de OME que persiste vários meses e cerca de 5 à 10% escalarão durante um ano.

O seguimento de uma criança com OME ( que não esta em risco de ter dificuldades de linguagem ou aprendizagem provocados pela diminuição de audição) é todos os 3 à 6 meses até desaparecimento completo de líquido. Em 90% dos casos, o liquido elimina-se de ele próprio.

O médico poderá vir a proceder uma cirurgia no ouvido, com uma ligeira incisão no tímpano para introduzir um tubo de arejamento para drenar o ouvido médio. Esta intervenção pratica-se assim que perda de audição seja superior à 40dB no teste de audímetro ou assim que a criança apresente dificuldades de linguagem ou aprendizagem. Da mesma forma, a cirurgia às vegetações adenóides abundantes é praticada quando se apresenta como a causa de OME.

O tratamento em osteopatia :

Os protocolos médicos, o uso de antibióticos no caso de OMA ou ao dispositivo de arejamento para as OME, são controversos quanto à sua utilidade e seus resultados à médio e longo prazo conforme os dados clínicos em medicina pediátrica.

Seguindo as estáticas em medicina convencional, uma criança de 6 meses à 5 anos estará exposta à infecções repetitivas do ouvido e complicações, sem que pareça haver outra opção terapêutica eficaz.

A abordagem da osteopatia na dinâmica terapêutica da otite visa à aumentar o potencial de cura de infecção do ouvido no 1° episodio de OMA, para evitar recidivas e complicações durante meses ou anos. Os grandes princípios da osteopatia interessam-se em aumentar este potencial, normalizando as estruturas vasculares, nervosas e ósseas em relação com a infecção do ouvido e infecção das vias respiratórias que são a causa da otite.

O ouvido médio e a trompa auditiva estão situados no interior do osso temporal. O osso temporal esta ligado com o zigomático e mandíbula, mandíbula que esta em relação com a mobilidade da trompa auditiva quando a criança engole ou boceja. O osso da base do crânio, o occipital, esta em relação com o osso temporal pelo intermédio de uma articulação (sutura) na qual circulam artérias, veias e nervos. Estes desenvolvem um papel importante na capacidade de cura das infecções presentes durante um primeiro episodio de OMA ou de OME.

Durante uma infecção, a inflamação vem reduzir as relações de mobilidade de estas estruturas e altera suas funções vasculares e nervosas devido à presença de tecido cicatricial e toxinas resultando da infecção.

Durante uma consulta, e será importante de não utilizar o termo “tratamentos” pois à cada visita em osteopatia é realizado um interrogatório e exame clínico aprofundado para avaliar a progressão do paciente (pelo menos no nosso consultório), será realizado um questionário clínico sobre a saúde global da criança desde o nascimento. Uma avaliação completa e uma atenção mais precisa sobre o exame do crânio da criança. A estreita ligação entre a zona cervical e os sistemas vasculares e nervosas do crânio e das vias respiratórias, também será foco de analise e intervenção. As técnicas ditas “osteopáticas”, ou seja manipulações ligeiras e precisas, são efectuadas consoante a avaliação clínica, tendo por objectivo restaurar a função das veias, artérias, nervos e estruturas ósseas alteradas apôs infecção. Assim, que o sangue e o sistema nervoso, circularem livremente, o organismo tendera para uma cura autónoma.

Na minha qualidade de osteopata especializado nas crianças e recém-nascidos, ensino aos pais a pratica de movimentos (massagens) simples e precisos à efectuarem no crânio da criança, de forma à aumentar a circulação vascular e nervosa em direcção ao ouvido médio, trompa auditiva e vias respiratórias (garganta, nariz e seios). Estas massagens quotidianas aceleram o processo de cura da infecção e reduzem o numero de visitas no consultório. Por experiencia, durante um episodio de OMA ou de OME, consoante a severidade, serão necessárias entre 2 à 4 consultas até aos 24 meses, seguidas de consultas de prevenção (check-up) todos os 6 meses até aos 5 anos de idade e anualmente até aos 8 anos.

Alguns conselhos ao pais são incentivados, como :

  • a posição semi inclinada durante o sono
  • a utilização moderada de produtos de higiene nasal
  • o ensino ( na criança mais crescida) à se assoar frequentemente
  • evitar o tabagismo secundário
  • evitar o biberão e/ou aleitamento em posição horizontal ao bebé
  • controlar a febre
  • consultar o seu médico de família ou pediatria

Nota : A Osteopatia não se substitui à consulta do seu médico e ao uso de medicamentos.

Este artigo representa somente a opinião e experiência do seu autor.

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