OSTEOPATIA NO MUNDO MUSICAL

Mais de metade dos músicos, profissionais ou amadores, sofreram de transtornos ditos “músculo-esqueléticos” relacionados à prática de instrumento. As dores mais frequentes, localizam-se na mão, pulso, antebraço, ombro, pescoço e coluna vertebral, provenientes do sistema tendinoso (as estruturas que ligam os músculos ao ossos), ou dos músculos por si próprios. 

Um estudo americano realizado à 4000 músicos de orquestra demonstrou que 66% dos instrumentistas à corda e 48% dos instrumentistas à vento apresentavam problemas de ordem músculo-esquelética, estatísticas confirmadas pouco tempo depois por um analise à 56 orquestras internacionais. Porem, todos os instrumentistas profissionais, amadores, alunos de conservatório podem apresentar afecções devidas à actividade musical.

Da intensidade da sua pratica e do aspecto repetitivo de determinados movimentos, consideraremos o músico profissional como um atleta de alto nível, por isso mais exposto à transtornos ósseos e musculares. No entanto, a experiência comprova que o amador, menos perdurante, menos treinado, é por consequência menos resistente aos constrangimentos corporais induzidos pela paixão musical.

  Alguns exemplos ilustrando as forças mecânicas e os conflitos no organismo do musico. 

 Músicos de orquestra, de fanfarra…

 De um lado, o musico de orquestra tem que repetir em casa com um trabalho pessoal consistindo em varias horas de dedicação à um nível de técnica exigente. Repetitivamente assiste-se à um síndrome de sobrecarga dito “overuse”, sendo as capacidades dos tecidos excedidas.

 Por outra parte, as repetições com a orquestra estão à origem de outro tipo de constrangimentos : a organização espacial impõe um lugar fixo que será conservado durante anos. À isso, acrescentamos um espaço confinado entre 2 colegas e uma posição estática frente ao pupitro. As tensões dos olhos que oscillam entre o púlpito e o chefe de orquestra vão provocar tensões musculares no pescoço, zona cervical, ombros, sem falarmos das afecções do próprio instrumento.

Os outros músicos, (solistas, jazz band, grupos de rock) acabam por sofrer “unicamente” das tensões do instrumento.

 Dois exemplos de instrumentos interferindo na postura e biomecânica do músico.

 No caso do violoncelo, o braço esquerdo coloca-se em tripla flexão criando forças de tensões nas articulações do ombro, cotovelo, pulso e mão. A própria postura do violoncelista, segurando o instrumento entre as pernas, provoca um aumento da curvatura da coluna lombar : uma acentuação da lordose lombar à origem de transtornos osteo ligamentares, de disco intervertebral, musculares e de desgaste avançado. À esta postura “viciada”, alguns violoncelistas deslocam a cabeça fora do eixo da coluna, aumentando as compressões nas cervicais. O ombro direito é de longe poupado, já que os movimentos de abertura/enrolamento do arco contra as forças de gravidade são mais um ingrediente desfavorável.

A prática do violino, ocasiona tensões ao longo da coluna e na bacia pela sua posição sentada. Existe essencialmente duas posições:

–          Pernas abertas: aumentado a curvatura lombar como no violoncelista

–          Pernas inclinadas para esquerda, tipo amazona, criando uma torção ao longo da coluna e provocando o estiramento dos ligamentos, músculos e colocando em tensão as articulações intervertebrais.

O porte do instrumento proporciona sistematicamente dores no pescoço e trapézios.

 Os diferentes transtornos nos músicos.  

Tendinites e Tenosinovites.

Originadas por microtraumatismos secundários à esforços demasiadamente intensos, rápidos e repetitivos; consiste no que os anglo-saxónicos apelidam de “overuse syndrom” e é similar à tendinite do desportista.

Tendinites dos flexores e extensores dos dedos nos pianistas e violonistas, epicondilites (tendinite da parte externa do cotovelo) nos violoncelistas com o mesmo processo que o golfista. Em simultâneo do tratamento em osteopatia cf.http://www.osteopataportugal.pt/index.php/artigos-publicacoes/item/136-tendinite-e-osteopatia, será necessário implementar uma correcção técnica, ergonómica do gesto.

 Síndromes de compressão nervosa.

 Traduzem-se por transtornos de sensibilidade, formigueiros (parestesias) nos dedos, de origem cervical ou da mão. Compressões situam-se também ao nível dos pulsos ( síndrome do canal cárpico) nos pianistas, violoncelistas e instrumentistas à vento como também podem afectar o cotovelo, ombro e pescoço (síndrome de desfiladeiro dos escalenos).

 Estes síndromes devem-se à vários factores :

 –          atitudes viciosas : flexão exagerada do pulso (síndrome do canal cárpico por compressão do nervo mediano), do cotovelo (compressão do nervo ulnar), retropulsão dos ombros e rotação do pescoço (provocando um síndrome de compressão vasculo-nervosa do desfiladeiro toraco braquial oriundo do plexo braquial).

 –          Hipertrofias musculares: a pratica exigente e o treino intensivo desenvolvem hipertrofias musculares, que por si próprias irão  favorecer compressões nervosas.

 –          Teno sinovites: devidas à híper solicitações dos tendões do flexores que comprimam o nervo mediano do canal cárpico.

 Patologia articular.

 A híper laxidão articular é prejudicial, contrariamente ao que certos músicos pensam, obrigando-os à fornecer um esforço muscular suplementar para estabilizar as articulações. Em particular nos instrumentos ao vento onde se exige uma pressão precisa, a mais frequente encontra-se na base do polegar (articulação trapezo metacárpica), sinal de artrose revelada ou desenvolvida pelo instrumento.

 De um forma complementar ao tratamento em osteopatia, devera se considerar um adaptação da atitude postural.

 Transtornos de postura.

 De forma geral, o aparecimento de problemas músculo esqueléticos é favorecido por posturas ditas “viciadas” e erros técnicos (“misuse”).

 Descaracterizando especificamente os instrumentos, o músico vai progressivamente por posições repetitivas em ligeira torção, instalar o seu corpo em disfunção.

 É musico e quer diagnosticar um desequilíbrio postural: coloque-se em pé, relaxado, frente ao espelho e observe :

 1.      A posição dos seus pés : recta ou aberta?

 2.      As solas dos seus sapatos apresentam um desgaste uniforme, ou mais acentuado no calcanhar, na parte externa?

 3.      A sua coluna na zona lombar encontra-se mais escavada?

 4.      Os seus ombros estão alinhados ou à uma altura diferente?

 5.      Sofre de um estalar à abertura da boca?

 6.      A sua abertura e fecho da boca realiza-se simetricamente?

 7.      O eixo entre os seus olhos é horizontal?

 8.      Os olhos na sua orbita são simétricos?

 9.      Sofre de calos nos pés?

 10.   Apresenta dores no pescoço, zona lombar, joelhos, ancas?

 Dê movimento ao seu corpo, consulte um Osteopata D.O, realize um exame postural, trate pequenas disfunções em prevenção.

 Para maior destaque sobre tendinite, lombalgia, cervicalgias, consulte os respectivos artigos.

 Nota: A osteopatia nao se substitui à consulta do seu médico e ao uso de medicação.

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