Aie-phone

O smartphone tornou-se o companheiro indispensável do nosso quotidiano, longe das arcaicas exclusivas funções de telefone, permite-nos enviar emails, sms, estar ligado aos Facebook, Instagram e Twitter. Basicamente, o telemóvel de 2020 permite tudo ou quase tudo, motivo pelo qual não conseguimos viver sem ele mas tranquilize-se a função “café” ainda não se encontra disponível. 

Que seja no quadro profissional ou privado, o tempo passado frente ao ecrã não cessa de aumentar, e se estas tecnologias melhoram o nosso dia à dia, a sua omnipresença tem efeitos nefastos sobre a sua saúde. 

E desde já, prometo não abordar o tema da  nomofobia, termo que apareceu em 2008 traduzindo a angustia de não estar contactável, a ansiedade de estar privado do seu telemóvel, apesar de ser um óptimo tema de psico-sociologia.

Em termos de saúde e telemóvel, se falamos frequentemente do perigo das irradiações hertzianas ou ondas electromagnéticas, mais raramente evocamos as noções de ergonomia ou postura.

O smartphone alterou os nossos hábitos de consumo, de comunicação … e também a nossa coluna vertebral. 

O seu smartphone em números 

Verdadeira adição, passamos em média mais de 1h30 no nosso smartphone todavia sem termos completa noção, o balanço em números : 

  • 5,38 milhões de smartphone em Portugal, era a estatística de 2014, valores que com certeza dispararam, tal como o crescimento de cerca de 80% relativamente à 2012.
  • 52% dos telemóveis vendidos
  • 60% dos portugueses utilizam o seu smartphone na hora apôs acordar
  • 55% dos 15-25 anos possuem um smartphone 
  • 56% dos portugueses praticam o “double screen” : internet no telemóvel e televisão em simultâneo 
  • 650 000 portugueses acedem ao seu banco pelo smartphone
  • 4 anos da nossa vida à olhar para o nosso smartphone

Estes números, assustadores ou realistas, demonstram a interacção com o smartphone longe, dos 70 minutos por mês que os portugueses passavam no seu telemóvel em 2004.

Quais os efectos sobre o nosso corpo e postura?

Uma cabeça humana têm um peso comprido entre 4,5 e 5,5 kg, algo que pode variar conforme o seu ego. Brincadeira à parte, quando utiliza o seu smartphone com a cabeça flectida para o seu ecrã, esta carga aumenta significativamente até uns impressionantes 27 kg. 

Mais concretamente, o estudo do Dr. Kenneth Hansraj (especialista da cirurgia à coluna vertebral) para o National Library of Medecine conclui que infligimos ao nosso pescoço uma pressão de cerca de 12 kg com uma inclinação da cabeça de 15°, 20kg com 45° e quando ultrapassamos os 60° submetemos a coluna cervical à um peso de 27,3 kg. 

Não consegue concretamente imaginar vinte e sete quilos? Imagine-se suportar uma criança de cerca de 10 anos nos ombros. Isto tudo, tendo em conta que passamos cerca de 2 à 4 horas diárias entre telemóveis e tablets, ou seja entre 700 à 1400 horas por ano. 

Indubitavelmente, este estudo solidifica que o indevido uso do smartphone têm incidências gravitarias, nomeadamente na pressão exercida na coluna vertebral, possibilitando alterações posturais. 

Contudo, como qualquer estudo, a leitura dos resultados deve ser analisada com moderação e sem o alarmismo que percorreu as redes sociais, promovendo que o smartphone estava à deformar a coluna vertebral dos adolescentes. De mais, imagino que a leitura desse estudo foi principalmente visualizada em dispositivos moveis, o que não deixara de ser caricato. 

Porem, não imaginem que estarei à tentar minimizar estes efeitos na postura corporal mas, na minha opinião, assemelham-se às repercussões da sedentariedade no nosso organismo.

Na pratica e de um ponto de vista postural, estas novas patologias de “text neck” ou “text syndrom” favorecem a cadeia lesional de flexão ou dita anterior. Longe da linguagem técnica e  em português desta vez, o uso do smartphone privilegia a flexão do pescoço sobre o tronco com o olhar para baixo. Esse comportamento aumenta a pressão na charneira cervicotoracica, mais precisamente entre a 7° vértebra cervical e a 1° vértebra torácica, tensão que desencadeia uma anteriorização dos ombros e rotação interna de todo o membro superior. Repercussões que se estendem ao conjunto da coluna, atendendo às adaptações e compensações que o complexo vertebral tentara anular. E é nesse aspecto, que a noção de equilíbrio é fundamental, tanto à nível estático como dinâmico : é de todo impossível cingir um estudo à zona cervical sem entender o impacto na sua globalidade. Será que a posição de flexão é exclusivamente o movimento anti-natural que infligimos ao nosso sistema esquelético? Nitidamente Não. Quando estamos à surfar pelas planícies da teia, o posicionamento das nossas mãos, braços, cotovelos e dedos também importam. Geralmente, colocamos as palmas das mãos para cima com os pulsos em rotação, escrevendo ou desfilando as paginas Web com os polegares. Mais uma vez, esta posição antinatural potencia as tensões no aparelho muscular, tendinoso e esquelético do membro superior e do pescoço, ainda mais verdade quando navega ou utilizo o smartphone por períodos excessivos. 

Clinicamente, os sintomas mais frequentes são a rigidez e dores no pescoço, tensões nos ombros e entorpecimento das mãos. Algo que de forma mais severa, tendo em vista a pressão exercida, pode resultar em cefaleias, tonturas ou transtornos visuais. 

Mesmo assim, sem radicalizar o seu smartphone, recorde-se que ao ler este artigo com uma postura inadequada corre um risco similar.

Incontestavelmente, os smartphones mudaram o nosso dia à dia para melhor, tendo como qualquer nova tecnologia ou por exemplo a actividade física, efeitos nefastos quando praticados ou utilizados sem comedimento. Fenómeno que não devemos radicalizar como o inimigo da coluna vertebral ou responsável pelas alterações posturais da sociedade. Como muita vezes referi na sua Zen, a sua postura é a equação complexa entre uma vida activa, associada à uma alimentação saudável, à reposição de agua, passando pela pratica de exercícios de alongamento e evitando os riscos grosseiros que podem prejudicar o seu esqueleto. Recorde-se que a dor de costas é multifactorial, sendo demasiado elementar condenar o seu telemóvel, o seu colchão, o seu computador, o assento do seu carro … e outros suspeitos.

Deixo-lhe umas pequenas dicas para minimizar os efeitos do seu smartphone na sua postura, dado que a moderação é a palavra chave.

E para que fique com boa consciência ou não se sinta isolado, confesso que ao escrever este artigo consultei mais de 200 vezes o Meu smartphone, tendo respondido à umas dezenas de emails no tablet, colocando alguns “posts” nas redes sociais e respondendo à mensagens e telefonemas … mas descanse, entretanto alonguei, estirei-me … 

7 Dicas à aplicar no dia à dia :

  • Evite colocar o seu telemóvel entre o seu ombro e o seu ouvido
  • Tente utilizar mais frequentemente o kit mãos-livres ou alta voz (altifalante)
  • Abstenha-se de olhar para o equipamento com o pescoço flectido, posicionando o seu smartphone à altura do seu olhar
  • Desactive as notificações, mantendo-o sempre alerta para o telemóvel 
  • Implemente intervalos, mesmo em trabalho, todas as horas
  • Realize regularmente alongamentos da coluna cervical, dos ombros e dos pulsos
  • Consulte um especialista se as dores se mantiverem durante mais de 3 dias ou se sofrer de torcicolos repetitivos 

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